Senepol, uma aliada do meio ambiente – Matéria Senepol SAN na Revista Senepol
Dois projetos com a raça mostram que é possível combinar pecuária
e cuidar da natureza
André Casagrande
Referências em sustentabilidade econômica, social e ambiental, a Fazenda
Palmito (Senepol Constelação) e a Fazenda San Francisco (Senepol San)
cuidam do bem-estar animal e realizam várias iniciativas voltadas para a
preservação da natureza, envolvendo a equipe de colaboradores e em parceria
com empresas e universidades.
O Senepol levou toda a família de Rubia Pereira Barra para a fazenda e, por
trabalharem juntos, cada um com sua habilidade, nasceu o Projeto 5 Estrelas
Constelação: Convivendo Bem-estar e Conseguindo Sustentabilidade,
Comprovando Desempenho, Conquistando Melhoramento Genético e
Contratando Cuidado.
“Temos como missão oferecer excelência ao produzir bovinos da raça Senepol
prezando pelo bem-estar animal e pela sustentabilidade. Para isso trabalhamos
arduamente na criação, na seleção, no melhoramento e na comercialização de
animais de alto valor genético. Somos uma família incansável na promoção do
desenvolvimento regional, por meio de uma pecuária moderna e sustentável, e
que encontrou no Senepol o pilar para atingir essa realidade”, afirma Rúbia que
é a gestora dos programas Convivendo Bem-Estar e Conseguindo
Sustentabilidade da Fazenda Palmito, proprietária da grife Senepol Constelação.
A criadora acredita que sustentabilidade na pecuária inclui o bem-estar animal e
é responsabilidade de todos. “É nosso desejo que a influência ecológica de
nossa fazenda não termine nos limites de nossa propriedade e sim que seja
exemplo para outros criadores de Senepol.”
Rubia conta que está em busca de outros criadores comprometidos com o bem-
estar animal e com a sustentabilidade, que acreditem e que tenham disposição
para seguir juntos. “A fazenda está de porteiras abertas para quem desejar
conhecer de perto o nosso trabalho”, convida.
A Fazenda Palmito está localizada no município goiano de Paranaiguara e
dedica-se a criação de gado de corte desde 1957 quando os sogros de Rubia
(Saturnino Paranaíba Bernardes e Josefa Guedes Bernardes) adquiriram a
propriedade.
Durante todo este tempo buscou-se melhorar a qualidade do rebanho,
inicialmente de gado Gir e, no início da década de 1970, foi introduzido o gado
Nelore, sempre utilizando as melhores ferramentas tecnológicas disponíveis em
cada época. A partir do final de 1985, Dona Josefa e os filhos assumiram a
fazenda.
“O encontro com a raça Senepol, que apresenta rusticidade, precocidade e
adaptabilidade necessárias à difícil tarefa de cobrir a campo e em condições
adversas, aconteceu em 2008, quando compramos o primeiro touro para o
cruzamento industrial”, conta.
Segundo a criadora, comprovados os resultados dos produtos com sangue
Senepol, em 2009 nasceu o projeto Senepol Constelação, com o objetivo de ser
referência na criação a pasto de animais puros, visando à excelência na
produção de machos e fêmeas melhoradores.
“Gosto de dizer que o Senepol me levou para o curral e, com certeza, a
docilidade da raça foi fundamental para isso”, enfatiza a criadora que considera
a docilidade uma característica da raça muito importante, que traz muitos
benefícios para a fazenda, inclusive com resultado financeiro positivo. “Quando
os animais são mais dóceis, facilita as rotinas diárias de manejo, não há correria
e nem gritos, o vaqueiro não precisa ficar nervoso. Esta facilidade no manejo
beneficia tanto o animal, que sofre menos risco de ter agressões por não ser
muito reativo, quanto o trabalhador, no dia a dia, evitando que ele se
machuque e termine o dia muito cansado”, observa.
“Tudo isto traz harmonia para o ambiente”, diz a criadora que acredita que é
possível atrelar imagem da raça Senepol ao conceito ecologicamente correto,
desde que se adotem práticas e atitudes que minimizem as agressões ao meio
ambiente em atividades econômicas no dia a dia.
“Se trabalharmos para que mais criadores adotem as boas práticas poderemos
ligar o Senepol a este conceito em que todos ganhariam, os animais, os
criadores, o meio ambiente, enfim estaríamos deixando um planeta melhor para
nossos filhos e netos”, enfatiza.
Cuidados com a flora e a fauna
Em parceria com a Companhia Energética de Minas Gerais S.A. (Cemig), a
Fazenda Palmito está recuperando as áreas de preservação permanente às
margens do lago de São Simão e as nascentes. “Todas estas áreas estão sendo
cercadas e onde há necessidade estamos plantando árvores de espécies
próprias para a região. Já foi possível observar emas chocando nessas áreas”,
diz.
De acordo com Rubia, com o Senepol começaram as discussões sobre o bem-
estar animal na propriedade, trazendo a necessidade de sombra nos piquetes.
“Estamos planejando o plantio de árvores para o sombreamento, escolhendo as
melhores espécies, tudo isso com certeza, vai beneficiar a flora e a fauna da
região”, conta.
“De tudo que estamos implantando na fazenda, o bem-estar animal e as boas
práticas são o que mais me encantam e, por questões éticas e morais,
intuitivamente já realizávamos algumas ações. Temos o privilégio de lidar com
animais da raça Senepol, que são extremamente dóceis, precisamos retribuir
adotando as boas práticas.”
Rubia relata que, motivada pela necessidade de buscar evidências científicas
sobre o assunto, ele procurou o professor Mateus Paranhos, da Universidade
Estadual Paulista da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,
campus de Jaboticabal, SP, idealizador do Grupo ETCO, que indicou a
consultora Lívia Carolina Magalhães Silva, da BEA Consultoria e Treinamentos,
que muito tem ajudado no manejo dos animais. “Esta parceria nos trouxe as
evidências científicas que procurávamos, as técnicas corretas para os cuidados
com os bezerros, o manejo e a desmama racional e a constatação dos ganhos
econômicos comprovados quando adotamos essa prática”, comemora.
Para a capacitação própria e dos colaboradores, em julho deste ano foi
realizado na fazenda o Curso Manejo Racional de Bovinos, por meio de
convênio entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa), a BEA Consultoria, Fundação de Apoio a Pesquisa, Ensino e Extensão
(Funep), a Unesp e o Grupo ETCO, ministrado pelo consultor da BEA Adriano
Gomes Pascoa.
“A mudança foi visível, diminuiu a correria, não se escuta mais gritos, além de
aumentar a segurança dos vaqueiros, reduzindo danos materiais, preservando
as benfeitorias do curral”, atesta.
Em novembro, Pascoa voltou à fazenda para acompanhar a vacinação, pois foi
a primeira vacinação considerando todos os passos do Manual de Boas Práticas
Vacinação, do Mapa e do Grupo ETCO.
Gestão de qualidade
Rubia aplica na fazenda a gestão da qualidade. “Todos os nossos processos
foram transformados em Procedimentos Operacionais Padrão (POP) e
Fluxogramas; investimos na capacitação de nossos colaboradores, discutindo e
validando com eles todos os POPs e Fluxos adotados; organizamos a farmácia
de forma a ter controle de estoque, vigilância de medicamentos vencidos e o
uso de agulhas e seringas descartáveis”, enumera algumas mudanças.
Também está realizando a substituição gradual dos bebedouros de cimento por
bebedouros de pneus recicláveis (Rubber Tank), que contribuem com a
preservação do meio ambiente uma vez que pneus ORT seriam queimados em
fornos industriais gerando muita poluição. “São duradouros, mantêm a água
mais fresca e não machucam os animais”, explica.
A coleta seletiva de resíduos sólidos iniciou com a capacitação de todos os
moradores da fazenda, quando foi destacada a importância desta ação para
cada um e para o planeta. “Na ocasião, foi apresentada a forma correta de
separação dos resíduos e oferecido para cada família um kit de lixeiras para a
separação e a criação de um ponto de coleta central (Eco Ponto), onde
semanalmente são depositados os resíduos separados.”
Em parceria com a Universidade Federal de Uberlândia, MG, a propriedade está
realizando o monitoramento constante das condições dos pastos, por meio de
metas de pastejo, em lotação rotativa, utilizando forragens de qualidade,
evitando a degradação dos mesmos. “Esta iniciativa, associada ao programa de
melhoramento genético, promove o encurtamento do ciclo até ao abate,
diminuindo a emissão de carbono da atividade da pecuária”, destaca.
Como responsabilidade social, a Fazenda Palmito está ajudando na construção
da sede do Projeto Meninada, instituição que vai trabalhar com crianças e
adolescentes em um bairro periférico de Uberlândia.
Referência em preservação
A Fazenda San Francisco, localizada em Miranda, no pantanal do Mato Grosso
do Sul, é referência em integração de atividades econômicas e preservação da
natureza. A propriedade possui uma área total de 9 mil hectares destinada às
seguintes atividades econômicas principais: cultivo de arroz irrigado, pecuária
de genética com bovino Senepol, criação de bezerros de cruzamento industrial,
cavalo Crioulo e o agro-ecoturismo.
Carolina Prudencio Coelho (Carol Coelho), administradora da propriedade,
afirma que é possível ligar a imagem da raça Senepol ao conceito
ecologicamente correto, por meio de iniciativas e hábitos que ajudem na
conservação da natureza. “Além de ações como a proibição e a fiscalização de
caça dentro da fazenda, principalmente quando se trata de predadores como a
onça-pintada, há diversas estratégias que podem ser utilizadas para diminuir a
predação.”
Para se ter uma imagem positiva, ligada ao conceito ecologicamente correto,
ela afirma que são necessárias mudanças efetivas no dia a dia da fazenda. “A
San Francisco é organizada para evitar a erosão e o assoreamento, com a
manutenção da qualidade das pastagens e a preservação das reservas florestais
previstas na legislação”, exemplifica. Carol acrescenta que a destinação correta
do lixo e a conscientização ambiental dos colaboradores e seus familiares
também são outros pontos de suma importância, assim como a preservação
das matas ciliares dos rios, dos riachos e principalmente dos mananciais de
água.
Bem-estar animal
Carol conta que a fazenda adotou as boas práticas de bem-estar animal em
todo o rebanho e vem aprimorando seus processos diários na lida com os
animais. “O gado é conduzido com bandeiras, sem gritaria, sem cutucões, e
permanece o menor tempo possível dentro do curral. Assim que é feito o
manejo, preferencialmente, vai para um piquete próximo ao curral até que o
serviço termine e o lote todo é solto na invernada de origem”, detalha.
“Realizamos a desmama lado a lado, que tem mostrado resultados fantásticos.
Temos duas invernadas especialmente para desmama, que dura nove dias, e é
feito em três etapas”, conta. Na primeira etapa, as mães e os bezerros ficam na
invernada desmama por três dias, para adaptação. Na segunda fase, as mães
são retiradas e colocadas na invernada da frente, dividida com cerca de arame
de oito fios, para evitar que os bezerros passem para o lado das mães. “A
pilheta fica entre as duas invernadas, de forma que os bezerros observam as
mães tomando água e aprendem o caminho.”
Na última etapa, as vacas são retiradas e os bezerros ainda permanecem por
mais três dias na invernada. Nestes nove dias, os bezerros recebem ração
especial de desmama. O tratador reúne os bezerros no cocho e coloca a ração,
assim eles se acostumam com a presença do vaqueiro, o que facilita todos os
manejos futuros, resultado em um gado mais manso em toda a fazenda.
“Realizamos palestras e treinamentos frequentes e selecionamos os vaqueiros
pela sua habilidade de manejo sem violência com o gado e como cavalo.
Vaqueiro agressivo é dispensado do serviço, só ficam os melhores”, enfatiza
Carol.
A Fazenda San Francisco cria cavalo Crioulo e realiza atividades esportivas de
laço comprido com esta raça. Para isso, foi criada a Cartilha de Bem Estar
Animal da Pista de Laço, para evitar os maus tratos com os animais. “Buscamos
irradiar as boas práticas, levando os conceitos para as fazendas vizinhas e
disseminando-os para toda a região. Como os resultados de produção são
melhores com a adoção do bom manejo do gado, conseguimos incentivar
outras fazendas da região a adotarem também.”
Compromisso com a conservação
Desde o início das atividades, existe a preocupação e compromisso com a
conservação. “A fazenda apoia e investe em projetos de pesquisas científicas da
fauna e da flora, com o objetivo de melhorar a integração e promover a
longevidade das atividades de agricultura, pecuária e agro-ecoturismo”, explica
Carol Coelho. Neste aspecto, vários projetos de pesquisa da flora e fauna foram
realizados, como Ecologia da Jaguatirica (Leopardus pardalis) e Estudo de
densidade e viabilidade econômica da palmeira Carandá (Copernicia alba).
Há alguns anos a Fazenda San Francisco recebeu o título de Criador
Conservacionista, Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS),
apoiando a reabilitação e a reintrodução de animais silvestres que foram
resgatados do comércio ilegal.
Além destes, existem programas de monitoramento em longo prazo, como o
Projeto Arara Azul e o Projeto Papagaio Verdadeiro que são realizados desde
1996 e 2001, respectivamente.
Também foi realizada uma pesquisa para o levantamento da avifauna, com o
intuito de descobrir quais espécies habitam e visitam a fazenda e quais são as
relações destas espécies com os recursos alimentares disponíveis na
propriedade. Foram levantadas 370 espécies diferentes de aves.
A Fazenda apoiou o Projeto Herpetofauna, conduzido por pesquisadores da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) que fizeram o
levantamento das espécies desta classe de animais e realizaram estudos, sendo
dois e nível de mestrado e um de doutorado, ajudando na conservação do
Pantanal.
O Programa de Estudo do Meio, outra iniciativa pioneira em educação
ambiental, é realizado com crianças de escolas brasileiras. Os materiais
utilizados para as aulas foram elaborados por uma equipe multidisciplinar de
biólogos e turismólogos da própria fazenda.
“Vale ressaltar que todas estas pesquisas são e/ou foram objeto de teses de
especialização, mestrado ou doutorado e as publicações desses estudos estão
fornecendo importantes informações sobre biologia e ecologia das espécies
citadas que poderão servir como estratégias para futuros planos de manejo e
conservação, em especial dos animais mais ameaçados”, enfatiza Carol.
Além das pesquisas da fauna e flora, a San Francisco tem um Programa de
Educação Ambiental, através de palestras sobre o Pantanal, ministradas pelos
próprios pesquisadores para os visitantes, como o Projeto Gadonça e o Projeto
Papagaio Verdadeiro
Desde 2003, a Fazenda San Francisco é a sede do Projeto Gadonça, que estuda
a predação do gado por Onça-pintada (Pantera onca) e Onça-parda (Puma
concolor). “Deste estudo saíram várias recomendações de manejo para evitar a
predação”, afirma Carol.
A fazenda recebe anualmente mais de 15 mil visitantes oriundos dos diversos
estados brasileiros e países. “Os guias são qualificados para fazer um trabalho
de conscientização ambiental e de valorização da fauna, flora e da cultura do
pantaneiro”, garante Carol.
Os visitantes assistem à Palestra Gadonça, ministrada pelo biólogo Henrique
Villas Boas Concone, que destaca a importância da conservação e das
estratégias para minimizar a predação e possibilitar uma convivência harmônica
entre o homem e a natureza. “Todos os visitantes passam pelas áreas de
pecuária da fazenda e conhecem o gado Senepol, inclusive muitos viraram
compradores de touros”, relata.
DESTAQUES:
“É nosso desejo que a influência ecológica de nossa fazenda não termine nos
limites de nossa propriedade e sim que seja exemplo para outros criadores de
Senepol.”
Rubia Pereira Barra, Senepol Constelação
“Selecionamos os vaqueiros pela sua habilidade de manejo sem violência com o
gado e como cavalo. Vaqueiro agressivo é dispensado do serviço, só ficam os
melhores.”
Carol Coelho, Senepol San
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